25.5.11

Onde é que eu ía mesmo?

Depois de tudo o que passei nos últimos meses, o nome deste blog até parece piada...
Onde é que eu ía mesmo? Ah, já sei...

Fiquei-me na parte em que foi-me detectado um tumor no cérebro, numa TAC de rotina que pedi na minha dermatologista. Era apenas para checar um 'inofensivo' micro-adenoma na hipófise, que me acompanha desde o segundo ano da universidade. Coisinha fraquinha, que só me causa incómodos hormonais crónicos, alterações abruptas de humor e aumento de peso, entre outras coisas... E ex que... a danada da TAC revela um outro 'bicho' bem maior e de aspecto pouco amistoso.

Alertada pela derma, segui a contactar de urgência um neurocirurgião danado de bom (bom, no sentido profissional, graças a deus). Viu-me a TAC, leu o relatório e perguntou-me "Tu sabes o que tens?" e como que pronto a dar-me a resposta, crente que tinha colocado uma pergunta retórica, eu despejo-lhe tudo o que li no google sobre astrocitomas e oligodendrogliomas, como se estivesse numa oral, a tentar safar a nota. A meu lado, uma mãe sem perceber puto do que para ali se falava. Só tinha a noção que era grave. Quão grave, não me interessava que ela soubesse...

"Sei que é um tumor maligno, de crescimento lento, com uma sobrevida de 5 a 8 anos..." resumi eu, entre outras pérolas que fui soltando sobre o dito 'bicho' e que tinha googlado. Ele, com expressão surpreendida, movida quiçá pela minha demonstração de coragem aliada à curiosidade típica de uma jornalista, rematou por fim: "então não preciso dizer mais nada...". Fez-se um silêncio... Ele olhou-me como quem diz "Estás tramada, miúda". Eu engoli em seco. Estaria à espera que ele me desmentisse ou que dissesse "o google não sabe nada, é um mentiroso". Não o disse...

Para tentar adicionar algum optimismo ao meu realismo (diga-se, positivista), o Dr.  acrescentou, como se tivesse reservado o 'tsharannn!!' para o final: "Não acredites em tudo o que lês nos livros. Além do mais tenho pacientes perfeitamente saudáveis que já operei há 15 anos" (ups... voltei a engolir em seco... 15 anos de sobrevida é uma sorte? se calhar é...) e depois, o auto-elogio narcísico: "sabes porque é que a tua dermatologista me indicou? Porque eu sou muito bom  naquilo que faço... ;)" (sorriso malandro, dedo a dar-me uma sapatada marota na ponta do nariz, o que me apaziguou um pouco mais). Depois relatou um episódio, que vim a verificar fazer parte de um dos muitos que o tornam um mito no S. Marcos e por toda a parte onde exerce medicina: a mãe da minha dermatologista (por sinal outra barra na sua especialidade) estava toda torta e vergada, cheia de dores. Que lhe fez o Dr.? Bota cimento lá pa dentro da coluna. Sim, ouviram bem! Concreto puro e duro! A senhora ligou-lhe poucos dias depois a dizer que já há muitas décadas que não se sentia tão bem e... direita!

No final, e já depois de a jeito de 'cereja no topo do bolo' ter-me visto os olhos com luzinhas apontadas a cegar-me e ter-me desabafado "já começo a gostar mais de ti...", ele declarou: "vou ter que te operar", e esta afirmação foi tão perentória como ter dito "não há outro remédio", coisa que aconteceu com uma precisão de três semanas após esta consulta.

Neste dia decorria a sessão fotográfica dos postais, na minha ex-escola, com os alunos, o fotógrafo a quem atempadamente convidei, as roupas e acessórios que andei a angariar nos dias anteriores... abandonei a meio a sessão, deleguei as reponssabilidade nas minhas sócias, para ir à consulta. Quando regressei, já com a certeza do prognóstico que levei em dúvida, continuei a dar corpo a uma ideia que projectei como o primeiro produto do meu site...

Fui operada a 24 de Fevereiro e nem uma gota de dor senti. Perdi foi parte de mim. Ando ansiosamente à procura dela... Se a virem, avisem-me...

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